
Sentindo-me numa grande ilha... mas agora de certa forma, sinto uma enorme vontade de nadar, que seja contra ou a favor as várias correntezas...Descobri em mim aquilo que me fez autêntica... descobri não, lembrei-me.
Há muito corria para lugares estranhos aos quais eu deveria estar, estranhos a mim, a minha essência. Não digo natureza pelo determinismo, que durante muitas vezes impôs barreiras contra meu ser.
O medo de se expandir, o medo de ir além de si mesmo, o medo que nos corrompe, o medo que nos cala. Um dia céticos, no outro hipócritas... Sentia-me assim! Sinto-me assim. Calei-me frente àquilo que me receava, a vida como um todo... em questão sociais, políticas, familiares, [...].
Ainda estou nessa ilha. Hoje frente a prédios que rondam minha vida, tantos apartamentos, tantos números, tantos robôs, e tantas falas, e tantas pessoas, e a própria carência, a necessidade do "ater-se" seja em quem for, nos prende em nós mesmos... nos silencia.
E tantas vozes que ainda não dizem nada.
A partir de Kafka, uma questão retrógrada passou a rondar meus questionamentos novamente.
A morte de Gregor liberta os outros, traz a libertação de si mesmo, traz a libertação para tantos.
Ele nem sabia quem era, para que veio, qual função de fato deveria estabelecer, e se tinha ou não que estabelecer alguma função em vida de modo tão taxativo. Era um ser vazio de si mesmo. No niilismo de sua alma, deu-se tantos aos familiares que mortificou seus desejos, carcerou sua liberdade no início do outro... e Quando o oposto ocorreu, quando os outros tiveram sua liberdade perdida pela monstruosidade de seu novo ser, aliás, de algo que de certa forma emblemática o tentava ser, eles não aguentam. Elas não conseguem se ver encarcerados por Gregor...
Daí sua morte ser a liberdade. E também a consequência. Liberdade para aqueles que se prenderam a questionamentos vagos, sem respostas. E consequência daquilo que ele não foi, na sua invalidez, na falta do existir...
e novamente vem o questionamento, a morte então seria o maior símbolo da liberdade e da 'cura' imediata de todas as angústias daquilo que não se é?
Se assim o for, chamo Ismália de Guimaraens mais uma vez... e como ela se jogou do farol, "viu sua alma subir aos céus e seu corpo descer ao mar", faço o mesmo. Subo para a "janela da vida"
e me derramo na vastidão de tudo aquilo que um dia eu me fiz ser para suprir o vazio do outro, e busco nessa tentativa irremediável aquilo que eu queria ser e que não fui. Dou, assim, a liberdade para outrem e a mim, a cura de todas as angústias do mundo inteiro... do sentimento de incapacidade de simplesmente existir. Intitulo, agora, de Macabea Ismália Samsa.